quarta-feira, março 07, 2007

MARIA ANTONIETA














Princesinha de Nova York.

Musa de Marc Jacobs quase troca o cinema pela moda.
(Helena Celestino – Nova York)

Sofia Coppola poderia ser uma personagem dos seus filmes. Sonhadora, nefelibata, mas cheia de estilo. Ou”petulante, borbulhante, cool”, como papai Francis Ford Coppola definiu o champanhe com que homenageou a filha, batizando seu mais nobre vinho de Sofia. Princesinha de uma poderosa dinastia de cineastas. Sofia entrou pelos salões dourados do castelo de Versailles para filmar “Maria Antonieta” e transformou a polêmica rainha num personagem parecido com ela mesma e as heroínas de seus filmes: etéreo, melancólico, deslocado da cultura em torno.

- Eu queria ver a garota atrás do mito e dos clichês – diz a diretora, em voz baixa.








Maria Antonieta, estrela do último filme de Sofia Coppola, não é a rainha que simbolizou a decadência da aristocracia na França, foi o estopim da Revolução Francesa e morreu guilhotinada. A vilã da História, na visão da diretora, é uma confusa e solitária austríaca de 14 anos, despachada para a França em 1770 e obrigada a um casamento de conveniência com o futuro rei Luís XVI. A pobre menina rica, diante de uma corte hostil e um marido desinteressado do sexo, refugia-se em festas, como qualquer jovem mal-amada da atualidade.
Com pinceladas de uma Paris Hilton do século XVIII, Maria Antonieta das telas é também uma fashionista compulsiva, fascinada por sapatos – entre o seus exemplares Manolo Blahnik de época, um tênis All Star faz uma figuração rápida – apaixonada por champanhe e macarons, que evolui pelo castelo de Versailles ao som pós-punk de bandas – a Bow Wow Wow, a Gaong of Four, o Cure e o Phoenix.
- Não me interessava fazer um drama histórico, mas descobri uma identidade com Maria Antonieta das telas. Posso me tocar com o fato de ela ser casada, chegar numa nova família, sofrer com a competição entre as mulheres. São temas universais – filosofia a diretora de 35 anos, que também assinou todos os roteiros que filmou.
Iconoclasta, o filme recebeu uma vaia monumental no Festival de Cannes, dividiu a crítica mundial, levou um milhão de franceses ao cinema, mas não foi o sucesso que a Sony Pictures esperava nos EUA.Com orçamento de US$ 40 milhões e um elenco estelar – Kirsten Dunst, como a rainha, e Jasin Schwartzman, como rei Luís XVI – “Maria Antonieta” não repetiu o sucesso de público e crítica de “Encontro e desencontros”, o filme que deu um Oscar a Sofia, a primeira mulher a ganhar o prêmio de melhor diretora da Academia de Hollywood.
- Gostei da reação. Não suportaria a indiferença – diz.








MARC JACOBS:
‘QUERIA SER SOFIA’

Nas lojas, Maria Antonieta virou o ícone da temporada no final do ano passado: o estilista Alexander McQueen desfilou longos de tefetá inspirados na primeira vítima da moda da História. Marc Jacobs homenageou a rainha na coleção para o Lois Vuitton. Manolo Blahnik lançou sapatos ao estilo da corte de Versailles. E Jonh Galliano desenhou vestidos para a Dior Couture.
- Não penso em lançar moda quando filmo. Tento ser intuitiva, usar coisas que me atraem para criar um mundo visual que convém à história – diz.








Musa do mundo fashion, Sofia, com um barrigão de oito meses, participou com tranqüilidade do ritual de entrevistas em Los Angeles, na época do lançamento do longa, e depois se refugiou em Paris para ter sua primeira filha, Romy. O pai é o cantor francês da banda Phoenix, Thomas Mars. Em “Maria Antonieta”, ele faz uma ponta e contribui na trilha sonora.
A grande sombra de Francis Ford fez Sofia errar pela vida antes de acertar a mão como diretora. Quase adolescente, fez uma aparição catastrófica como filha de Al Patino, em “O Poderoso Chefão III”, e, diante das arrasadoras críticas, trocou o cinema pela moda. Juntamente com Zoe Cassavetes, filha do mito Jonh Cassavetes, abriu a grife Milk Fed, até hoje uma lucrativa franquia japonesa. Foi o pai que a incentivou a dirigir “Lick the.star”, seu primeiro filme, de 1998, um curta sobre meninas na escola.
- Meu pai é a razão pela qual filmo. Ele me incentivou a achar o meu próprio ponto de vista, ser único – diz.
Trabalhar em família é um dos primeiros privilégios da diretora por pertencer a esse clã de amigos talentosos e ambiciosos. O irmão, Roman, também cineasta, comanda a segunda câmera dos filmes de Sofia. A mãe Eleonor faz o making of e Francis atua como produtor-executivo. Ainda há os primos, os atores Nicolas Cage e Jason Schartzman - este se transformou num engraçado Luís XVI.
Pela sua casa de criança, passavam Andy Warhol, George Lucas, Werner Herzog, Marlon Brando e grandes nomes do cinema e das artes a partir dos anos 70. Pela sua casa de Nova York, é a nova geração de talentos que circula e trabalha com ela: a modelo Kate Moss, o estilista Marc Jacobs, a diretora Zoe Cassavetes, Wes Anderson ( diretor de “Rushomre – Gostam todos da mesma” e de “Os excêntricos Tenenbaums”) e, até 2003, Spike Jonze, seu ex-marido e diretor de “Quero ser Jonh Malkovich”.


-Texto publicado no caderno Ela do O Globo, no dia 03/03/2007.



Diante das críticas e comentários que já li sobre esse filme. Cheguei à conclusão que a tendência e comparar “Maria Antonieta” a Sofia Coppola. Como se fosse uma “autobiografia” da diretora através desse personagem da história.
Agora é esperar dia 23/03 e conferir. T Lá.

Depois do filme:

"Não sei se minha frustração veio de querer mais emoção, envolvimento, luta, enfim mudança. Ou de antes ter assistido “Notas sobre um Escândalo”. Um filme que diz sobre as consequências de uma escolha ou de escolhas?
Ela foi criada para ser daquela maneira e cumprir aquele papel.
Coadjuvante na realeza francesa.
Papel de bibelô que a figura feminina tinha naqueles tempos.
Obedecer sem questionar.
Mesmo que por vezes desejava e olhava de longe outras vidas.
Como querer uma mártir de alguém que teve em toda sua vida a incumbência de ser uma “patricinha”.
Eu fui querendo uma Joana D’arc e encontrei Maria Antonieta.

Nenhum comentário: